quinta-feira, 28 de maio de 2009

A FALÊNCIA DO PRAZER E DO AMOR - Fernando Pessoa
(extractos)
I
Beber a vida num trago, e nesse trago
Tôdas as sensações que a vida dá
Em tôdas as suas formas [...]
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Dantes eu queria
Embeber-me nas árvores, nas flôres,
Sonhar nas rochas, mares, solidões.
Hoje não, fujo dessa idéia louca:
Tudo o que me aproxima do mistério
Confrange-me de horror. Quero hoje apenas
Sensações, muitas, muitas sensações,
De tudo, de todos neste mundo - humanas,
Não outras de delírios panteístas
Mas sim perpétuos choques de prazer
Mudando sempre,
Guardando forte a personalidade
Para sintetizá-las num sentir.
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Quero
Quero afogar em bulício, em luz, em vozes,
- Tumultuárias [cousas] usuais -
O sentimento da desolação
Que me enche e me avassala.
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Folgaria
De encher num dia, [...] num trago,
A medida dos vícios, inda mesmo
Que fôsse condenado eternamente -
Loucura! - ao tal inferno,
A um inferno real.

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